Introdução
Incontinência urinária é a incapacidade de segurar a urina de forma voluntária. Pode ocorrer em homens, porém é mais comum em mulheres após os 50 anos de idade. O canal da urina da mulher é mais curto, além de ter uma estrutura muscular mais frágil no assoalho pélvico quando comparada aos homens, dificultando a contenção da urina principalmente após as gestações e secundário à flacidez muscular associado com o envelhecimento.
Sintomas
A dificuldade de segurar a urina pode estar associada com múltiplas doenças como infecção urinária, cálculo vesical, tumor na bexiga ou doenças neurológicas como Parkinson, AVC (derrame cerebral) ou lesões na medula. Existem basicamente dois tipos de incontinência urinária, as quais podem aparecer isoladamente ou associadas: de esforço e de urgência.
A incontinência urinária de esforço é a perda urinária ao realizar esforço ou movimentação física como tossir, espirrar, sorrir ou fazer exercício físico. O esfíncter (músculo do assoalho pélvico) que segura a urina fica enfraquecido e quando ocorre aumento da pressão na bexiga pelo esforço, ele não consegue segurar a urina e ocorre a perda involuntária. Geralmente o paciente não está com desejo intenso de urinar, mas depois do esforço nota que saiu um pouco de urina ou roupa íntima molhada. No homem pode acontecer o mesmo tipo de perda urinária após a cirurgia de retirada da próstata.
O segundo tipo de incontinência é a de urgência. Conhecido também como urgeincontinencia, pois a perda de urina acontece após uma vontade súbita de urinar durante as atividades cotidianas. Geralmente vem uma vontade muito intensa de urinar (secundário a contração da bexiga) e o paciente não consegue segurar a urina a tempo de chegar à toalete. Nesse tipo de perda urinária, o esfíncter está normal, mas a bexiga fica hiperativa, ou seja, apresenta contração em momentos inadequados com pressão elevada e o esfíncter não consegue segurar a urina. O aumento súbito da pressão na bexiga pode acontecer na vigência de infecção urinária, pode estar associado a problemas neurológicos, mas pode acontecer em mulheres que não apresentam nenhum tipo de doença. Outra queixa comum da bexiga hiperativa é o intervalo curto entre as micções (ir muitas vezes ao banheiro), associado a perda involuntária de urina.
Fatores de risco
A incontinência urinária é pelo menos 2 vezes mais comum nas mulheres e a sua incidência aumenta com a idade. A gestação precoce é um fator de risco, principalmente o parto normal. As doenças neurológicas como AVC (derrame) e doença de Parkinson, por exemplo, podem aumentar a incidência de incontinência urinária. A obesidade contribui para o aumento da pressão intra-abdominal e pode piorar a incontinência. Diabetes e infecções urinárias são outras doenças associadas à perda urinária.
Diagnóstico
A história clínica e o exame físico podem auxiliar na identificação do tipo de incontinência urinária que o paciente está apresentando. E pode ser complementado com exames específicos:
- Exame de urina pode identificar a presença de infecção urinária
- Ultrassonografia pélvica pode identificar alguma anormalidade na bexiga como tumor ou cálculo vesical
- Cistoscopia é um exame que avalia o aspecto da bexiga com uma câmera endoscópica e é reservado para casos específicos
- Estudo urodinâmico é um exame que permite avaliar a fase de enchimento da bexiga e a fase de micção
No estudo urodinâmico são passadas duas sondas de fino calibre pela uretra (uma para encher a bexiga com soro fisiológico e a outra para medir a pressão dentro da bexiga) e uma outra sonda pelo reto (para medir a pressão no intestino, a qual reflete a pressão dentro do abdome). Durante a fase de enchimento, o normal é não ter nenhuma contração relevante da bexiga. A perda por urgência ou hiperatividade pode ser identificada quando há contração intensa da musculatura da bexiga com perda de urina durante a fase de enchimento vesical. Quando o paciente estiver com vontade de urinar, encerra-se a fase de enchimento. Neste momento, o médico vai solicitar para tossir e depois fazer força gradativa no abdome tentando segurar a urina. Se houver perda neste momento, isso caracteriza a incontinência urinária de esforço. Pode ser medido a pressão na qual ocorreu a incontinência. Se ocorrer incontinência com uma pressão muito baixa significa que o esfíncter está bem enfraquecido. A determinação desta pressão pode auxiliar na escolha do melhor tratamento para cada paciente.
Tratamento
O tratamento depende do tipo de incontinência urinária e da intensidade das perdas. No caso de incontinência de urgência ou quando há associação dos dois tipos de incontinência, isto é, nos casos em que há hiperatividade do músculo da bexiga, o tratamento é realizado com medicamentos que ajudam a promover o relaxamento dessa musculatura. Quando o tratamento com medicamento não é eficiente, a segunda opção de terapia é a aplicação intravesical de toxina botulínica. A toxina botulínica paralisa parcialmente uma parte do músculo e evita contrações exageradas em momentos inadequados.
A incontinência de esforço pode ser tratada com fortalecimento da musculatura pélvica por meio de fisioterapia, eletroestimulação ou biofeedback eletromiográfico. No entanto, o tratamento padrão para esse tipo de perda urinária é a cirurgia, conhecida como “Sling”.
Na cirurgia de “Sling” é realizado um pequeno corte na parede anterior da vagina (local onde passa o canal da urina; uretra), seguido de posicionamento de um tecido sintético ou de malha (sling) em torno da uretra e do colo da bexiga. Esse tecido provoca uma cicatrização nesta topografia e aumenta a resistência para a eliminação da urina, reduzindo ou eliminando assim a perda urinária. É possível obter melhora da incontinência em 80-90% dos casos. É uma cirurgia minimamente invasiva com pouca dor que em geral recebe alta hospitalar no dia seguinte à cirurgia. Se houver prolapso genital, conhecida como “bexiga caída”, que é a saída de bexiga, reto ou útero pelo introito vaginal, o tratamento cirúrgico pode ser diferente. Isso porque a correção do prolapso pode ou não ser associada com correção da incontinência urinária.
Orientação ao paciente
Mantenha uma vida saudável, realizando atividade física regular associada a alimentação saudável e rica em fibras, evitando ganho excessivo de peso corporal. Se tiver diabetes, controle bem a glicemia. Evite tabagismo, bebidas alcoólicas e cafeínas, que são substâncias que provocam irritabilidade na bexiga e aumento da frequência de idas ao banheiro para urinar. Se você urina com muita frequência à noite, reduza a ingestão de líquido antes de dormir. Durante o dia, evite ficar com a bexiga muito cheia, tente ajustar os intervalos para urinar a cada 2-3 horas.