Introdução
Trata-se de tumor mais raro, correspondendo a 10% dos tumores uroteliais. Pode acometer a cavidade pielocalicinal (dentro do rim ou a pelve renal) ou o ureter, sendo duas vezes mais frequente no rim do que no ureter. Tumores em mais de um local podem ocorrer em 10-20% dos casos. Em até 17% dos casos pode coexistir câncer de bexiga e câncer no trato urinário alto.
Diferentemente do câncer de bexiga, o carcinoma do trato urinário alto possui elevado potencial de recidiva e progressão, sendo que 60% dos casos já são invasivos ao diagnóstico. O pico de incidência é aos 70 anos e 10% dos casos são hereditários, isto é, relacionados à síndrome do carcinoma colorretal hereditário não polipóide (HNPCC) ou síndrome de Lynch. Pacientes com síndrome de Lynch têm aproximadamente 30% de chance de desenvolver carcinoma urotelial do trato alto.
Sintomas
O sintoma mais comum é sangue na urina (hematúria). Outros sintomas que podem aparecer são: dor lombar, perda ponderal, cansaço ou febre. Em alguns casos pode simular um câncer renal tanto na imagem quanto no exame físico com massa palpável no abdome. Outra forma de diagnosticar esse tipo de câncer é quando há dilatação do rim (hidronefrose), pois o câncer provoca obstrução no canal da urina, dificultando a sua drenagem e consequente dilatação à montante do local da obstrução.
Fatores de risco
Os fatores de risco são semelhantes ao câncer de bexiga (se desejar saber clique aqui)
Diagnóstico
O melhor exame para o diagnóstico é a tomografia computadorizada com contraste endovenoso e fase excretora (urotomografia). Na fase excretora deste exame, o local onde a urina passa fica branca e quando há falha de enchimento, o diagnóstico de carcinoma do trato urinário alto é bem sugestivo. É mandatória a realização desse exame em qualquer paciente que tenha apresentado hematúria ou que tenha recebido o diagnóstico de câncer de bexiga, pois ambos os cânceres podem coexistir.
Às vezes a falha de enchimento é pequena ou somente há um espessamento na imagem, gerando uma dúvida em relação ao diagnóstico. Neste caso há indicação de se realizar ureterorrenoscopia flexível com biópsia (colocar um aparelho fino com câmera pelo canal da urina que consegue chegar até dentro do rim, permitindo a visualização direta da área suspeita e sua biópsia).
Estadiamento
O estadiamento pode ser realizado por meio da tomografia computadorizada do tórax, abdome e pelve; a qual permite avaliar se o tumor é localizado ou se já se espalhou para outro local (metástase). É mandatório realizar cistoscopia para avaliar dentro da bexiga, mesmo que o exame da TC seja normal, pois pode haver tumores pequenos e visíveis somente ao exame direto com a câmera. Descartar que há tumor dentro da bexiga vai ser importante na programação do tratamento cirúrgico.
Tratamento
Quando o tumor é pequeno e superficial, existe a opção de realizar um tratamento com laser através de ureterorrenoscopia. Infelizmente é muito raro o tumor ser tão pequeno que possa ser submetido a esse tratamento endoscópico.
O tratamento padrão é a nefroureterectomia radical associada à linfadenectomia retroperitoneal e/ou pélvica: retirada do rim e de todo o trajeto da urina, juntamente com uma parte da bexiga, para garantir a retirada de todo o ureter com margem de segurança e menor risco de recidiva. Como é preciso retirar uma parte da bexiga, é importante que não tenha nenhum tumor ativo na região próxima ao meato ureteral (a parte final do ureter que chega dentro da bexiga). Quando o tumor é pequeno e localizado no ureter próximo da bexiga, uma opção é fazer ureterectomia distal (tirar o ureter próximo da bexiga e uma parte da bexiga) e reimplante ureteral (acoplar o ureter remanescente na bexiga). Essa opção restringe-se a casos específicos, por exemplo, para quem tem rim único.
Orientação ao paciente
Evite contato frequente com produtos químicos e tente cessar o tabagismo (procure ajuda médica se necessário). Caso tenha algum fator de risco, como exposição a produtos químicos, câncer de bexiga prévia ou alteração genética hereditária como síndrome de Lynch, passe regularmente com uro-oncologista para diagnóstico precoce da doença, caso venha a desenvolver. O diagnóstico precoce aumenta a chance de cura do carcinoma urotelial do trato urinário alto.