O tratamento padrão para câncer de bexiga que invade a musculatura é a retirada completa da bexiga e dos linfonodos pélvicos. No caso do homem, é retirado também a próstata; e no caso da mulher, pode ser necessária a retirada do útero juntamente com a bexiga.
A cistectomia é uma das cirurgias mais longas na urologia e tradicionalmente era feita com uma incisão grande abaixo do umbigo e os intestinos ficavam expostos ao ar durante o procedimento. Isso provocava um quadro chamado íleo, em que as contrações intestinais ficam transitoriamente fracas, causando distensão do abdome, náuseas e vômitos. A cirurgia robótica permite manter as alças intestinais sem exposição ao ar, reduzindo o tempo de íleo, além de reduzir o sangramento.
Após a retirada da bexiga, é necessário realizar uma derivação urinária, ou seja, criar um caminho para a saída da urina. A primeira opção é colocar os dois ureteres na pele, que chamamos de ureterostomia. A vantagem é não manipular a alça intestinal, e a desvantagem é o risco de estreitamento do orifício na pele. A segunda opção é pegar um segmento de intestino, colocar os dois ureteres na parte final dele e exteriorizar a outra parte na pele. Assim a urina acumula neste segmento de intestino, sai pela pele e é armazenada na bolsa coletora. Essa técnica é chamada de Bricker. Por fim, a reconstrução mais difícil e trabalhosa é a criação de uma neobexiga por meio do uso de um segmento maior de intestino que é anastomosado na uretra do paciente (derivação ortotópica). A vantagem desta técnica é que não precisa ficar com bolsa coletora, já que urina passa pela uretra, mas alguns pacientes podem necessitar de cateterismo intermitente – passar uma sonda fina pelo pênis para esvaziamento completo da neobexiga – e outros podem apresentar incontinência urinária (incapacidade de segurar a urina).
A internação geralmente é mais prolongada, ao redor de 7 dias. O período de repouso varia de acordo com a orientação do cirurgião. O seguimento envolve exames para monitorar a função renal, tomografia computadorizada para avaliar recidiva e controle da acidose metabólica, que é uma alteração que pode acontecer sempre que utilizamos o intestino como substituto de bexiga. A acidose é monitorada por gasometria (exame de sangue) e é corrigida com uso de um medicamento chamado bicarbonato.
